tou preparada para tudo, matar ou morrer.” Essas foram as palavras ditas por Jacqueline dos Santos Pereira (foto em destaque), 39 anos, a uma amiga momentos antes de ser assassinada pelo ex-companheiro Maciel Luiz Coutinho da Silva, 41, na tarde dessa segunda-feira (6). A conversa está em um dos áudios encontrados pela polícia no celular da vítima de feminicídio (ouça abaixo). A gari foi morta a facadas pelo suspeito em casa, na QC 1, Conjunto P de Santa Maria.

O homem fugiu do local pulando o muro da residência e, mais tarde, estacionou a moto em um acostamento e se jogou na frente de um ônibus, conforme informado pelo titular da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), Rodrigo Têlho. O motoboy morreu na hora. Antes de mandar à amiga o áudio demonstrando temor sobre as ações do ex-companheiro, Jacqueline recebeu uma longa mensagem de voz, encaminhada justamente pelo algoz. “Amor, é o seguinte: tudo o que você falou é verdade mesmo. O amor que eu sinto por você é doentio mesmo. Na minha cabeça, todo mundo que se aproxima de você é porque te quer. As suas amigas querem tirar você de mim”, disse Maciel. Ouça o áudio enviado pelo assassino à vítima:

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O motoboy ainda chegou a dizer que a ex-companheira não precisava se preocupar com nada, pois respeitaria a vontade dela. “Eu vou deixar você seguir. Talvez, lá no futuro, a gente possa se encontrar novamente. Neste momento, eu preciso ficar longe mesmo. Essa medida protetiva foi até boa, porque dessa forma eu vou conseguir me manter mais longe de você.” O criminoso ainda chegou a dizer que desculpava Jacqueline por ela ter ido à delegacia e feito a denúncia. “Eu te perdoo por esse processo. Se eu for preso, vou te perdoar também. Eu te perdoo por tudo. Eu sei que estou errado”, disse. Após receber a mensagem do ex-companheiro, Jacqueline, então, enviou um áudio para uma amiga. Ainda não falei nada. Estou indo para casa agora, bater o ponto, e vou ver o que dá. Estou preparada para tudo. A partir de agora, preparada para tudo, matar ou morrer”. Ouça o áudio a vítima:

Medida protetiva

De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Jacqueline conviveu com o algoz por mais de 20 anos e era alvo de violência e ameaças proferidas por Maciel. A vítima, então, passou a denunciar o companheiro e requereu medida protetiva de urgência junto à Justiça do DF, que foi deferida. Segundo o órgão, em 8 de março, a mulher compareceu à Vara de Violência Doméstica de Santa Maria e pediu a revogação da decisão. “Tendo em vista a espontânea manifestação de vontade da vítima, o Ministério Público requereu a revogação das medidas protetivas de urgência e a designação de audiência de justificação para avaliar a situação de risco”, disse o MPDFT por meio de nota. Em 13 de março, elas foram revogadas.

No entanto, em 26 de abril, a gari compareceu novamente à 33ª DP e noticiou a prática de novos crimes de violência doméstica cometidos por Maciel Luiz. Um dia após a denúncia, a Justiça voltou a deferir as medidas protetivas de “afastamento do lar, proibição de aproximação (700 metros), proibição de contato e proibição de frequentar o local de trabalho da vítima”. “A vítima foi intimada da referida decisão em 29 de abril. Maciel Luiz não tinha sido localizado”, completou o órgão. O MPDFT disse ainda que Maciel não foi preso porque “os inquéritos policiais, que reúnem os elementos de autoria e materialidade do fato, ainda não haviam sido concluídos e remetidos ao MP”.

Procedimentos

Procurado pela reportagem, o delegado Alberto Rodrigues, da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), reafirmou que a Justiça não falhou nos procedimentos com relação a Maciel. “Todas as providências a cargo das autoridades foram adotadas. Inquérito instaurado e instruído”, afirmou. Segundo o policial, o autor foi ouvido na última sexta-feira (03/05/2019) e orientado “acerca das consequências jurídicas e familiares que a violência doméstica traz para os lares”. “Infelizmente, o indivíduo utilizou o livre arbítrio, inobservou as orientações e o ordenamento jurídico, e destruiu a vida da esposa, dele mesmo e dos familiares”, disse Rodrigues. O delegado ainda contou que o pedido de prisão do motoboy, no dia do crime, foi expedido rapidamente, e o assassino só não foi detido por ter se atirado na frente de um ônibus. “Nós tomamos conhecimento do feminicídio às 16h30 e, às 18h, já havia sido protocolizado o pedido de prisão preventiva. Infelizmente, o autor cometeu suicídio.”

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