Dar o sangue, na Bahia, significa se empenhar ao máximo por alguma causa ou coisa. Mas para muitos baianos, principalmente da ala masculina, dar o sangue também é algo literal: ceder para quem precisa de uma transfusão. E em matéria de disposição para esse ato de compaixão, são mesmo os varões que mais têm comparecido às unidades da Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba) para reabastecer os estoques de socorro.

Durante todo o ano passado, as 28 unidades hemoterápicas de coleta e processamento de sangue públicas do estado receberam 159 mil candidatos a doadores, sendo 55% homens (cerca de 87 mil) e 45% mulheres (pouco mais de 71 mil).

No Brasil, que comemora neste domingo (25) o Dia do Doador Voluntário de Sangue, a vantagem masculina é ainda maior, de acordo com o Ministério da Saúde. Das 3,3 milhões de pessoas que doaram e aproximadamente 2,8 milhões que realizaram transfusão sanguínea no país no ano passado, 60% eram do sexo masculino e 40% do lado feminino. A diferença poderia ser ainda maior, não fosse uma determinação de 2002, que proibiu os homens gays de doar.

Para o aposentado Cézar Augusto Teixeira, 57 anos, que foi doar pela primeira vez na vida na última quinta-feira (22), no Hemocentro Coordenador do Hemoba, em Brotas, essa vantagem numérica dos homens se explica pelo “medo que as mulheres têm, apesar da coragem que elas têm para várias coisas”.

A opinião não agradou muito sua esposa, a professora de gastronomia Josenice Guimarães Teixeira, 53, dezenas de vezes mais experiente em doações e também presente para nova coleta. “Esse aí, quando tem qualquer coisa, só Jesus! Quando está doente, parece que está morrendo”, brinca ela, antes da tréplica do maridão: “Só fiquei mal assim quando tive dor por cálculo renal”.

Pelos cálculos da Hemoba, 38% dos doadores são jovens entre 18 e 20 anos. É o caso do estudante Ariel Amorim, 20, outro homem que marcou presença no Hemocentro de Brotas, na quarta. Nesta terceira vez, entrou na conta dos 43% de doadores de reposição (que direciona a doação para algum paciente), mas já apareceu também como voluntário (caso de 57% que doam para qualquer pessoa). “Foi na primeira vez, ano passado. Normalmente, é muito difícil a pessoa sair de casa pensando: ‘ah, vou doar’. Mas eu aproveitei uma campanha de doação”, conta.

Sobre a liderança masculina no ranking, acredita que haja fatores que favorecem eles e prejudicam elas. “Mulheres têm mais essa sensibilidade, da importância de doar. Mas tem também a questão do porte físico, ou da gravidez”, cita, ao lembrar de alguns impedimentos.

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